Ouvir o corpo: na aula de Meditação, a professora Lúcia Brandão nos faz o convite:
- Vamos ouvir o nosso corpo por alguns minutos...
Após algumas respirações, então, nos pergunta:
- Vocês se sentem confortáveis dentro dele?
Inicialmente, é difícil responder à pergunta, porque a mente ao invés de se aquietar e se aprofundar, insiste em ficar na superfície. Sendo assim, ela vai pulando de galho em galho feito um macaco, ora num pensamento, ora em outro.
Entretanto, após ajeitarmos a postura, com os olhos fechados; depois de respirações mais profundas, a mente vai se aquietando... Então vamos nos conscientizando o quão distantes estamos do interior do nosso corpo.
Apelos do corpo
Sim! Na maior parte do tempo, estamos distantes dos apelos do corpo!
Aliás, só o percebemos quando algo está anormal, quando alguma indisposição se manifesta, como: dor, contratura muscular, barriga estufada, queimação no estômago ou intestino preso ou solto, etc.
Quantas vezes, ao estarmos ocupados, inibimos a vontade de ir ao banheiro? Ou então, quando o corpo pede água e tomamos, ao invés dela, um café, um refrigerante, um suco, ou comemos um docinho? E quando insistimos em usar um sapato que machuca até formar um calo? Sem falar quando exageramos ao comer demais, dormir de menos, trabalhar além da conta, olhar o celular o tempo todo, etc.
Brigando com o corpo
Já reparou o quanto brigamos com o nosso corpo?
O espelho, certamente, é o primeiro a ouvir nossas insatisfações. Sendo assim, brigamos com o peso, com a pele, com a celulite, com a barriga que está grande, etc.
Com o avançar da idade, da mesma forma, ficamos incomodados com os cabelos brancos ou com a queda dos cabelos, rugas, flacidez, a memória ruim, os esquecimentos, a visão curta, entre outros sinais.
E o que dizer quando o intestino não funciona por vários dias? Vamos reclamar e brigar com o nosso corpo e também com quem estiver ao nosso redor.
Quando surge uma crise de alergia, infecção de urina, candidíase ou até mesmo um herpes labial, temos, enfim, a certeza que a imunidade está baixa.
O que fazer?
É fundamental, essencial e importante: a observação, ou melhor, a auto-observação.
Auto-observação
A atitude de auto-observação faz com que nos conheçamos melhor.
Através do autoconhecimento podemos transformar tudo aquilo que nos faz mal e reforçar o que nos faz bem! Desde alimentos, bebidas, vícios, atitudes, hábitos, palavras, pensamentos, etc.
Quando surgir um sintoma, por exemplo, uma diarréia, observar o que ingeriu nas refeições anteriores. Alimentou-se em casa, no restaurante? Sempre fazer um retrospecto, do momento em que estava bem até quando surgiu o sintoma.
Na maioria das vezes, é mais fácil tomar um medicamento do que bancar o detetive e descobrir aquilo que lhe adoece.
Foi assim que descobri, aos 20 anos, que a dor forte que sentia no meu peito (os diagnósticos eram terríveis), alguns meses após entrar na Faculdade de Medicina, era a falta de travesseiro; pois fui morar, em Santos, na casa de uma família que não tinha o hábito de usá-los.
Através da auto-observação, descobri há alguns anos atrás, que a dor nas articulações do meu dedo médio da mão esquerda, diagnosticada por 2 ortopedistas como artrose era apenas o modo errôneo como segurava a seta do carro novo, que havia trocado há 6 meses.
Esses são somente 2 exemplos pessoais, mas existem outros na minha experiência clínica. Estas percepções acontecem, quando temos tempo para ouvir o paciente e junto com ele descobrir o que está trazendo desequilíbrios em sua saúde.
O corpo e seu equilíbrio
Resfriado
O resfriado é a reação mais simples que o corpo faz para se livrar das toxinas e excessos acumulados, e assim, restaurar seu equilíbrio.
No início de um resfriado, quando a indisposição vai tomando conta, ao invés de se entupir de remédios, que tal experimentar um chá quente ou até mesmo aquela sopa feita com carinho? Talvez dormir mais cedo, ou então, descansar...
Portanto, é fundamental observar se a alimentação está rica em nutrientes e energia, se está ingerindo muito leite e derivados, se pegou uma friagem, tomou vento ou tomou bronca do patrão. Quando sabemos o que nos adoece, podemos ficar mais atentos e tomar atitudes a nosso favor.
Portanto, respeitar o corpo, faz com que o sistema imunológico naturalmente comece a trabalhar.
Ao contrário, se ignorar os apelos do corpo e persistir no mesmo ritmo frenético, comendo mal, dormindo pouco, engolindo sapos, talvez, ao invés do resfriado, venha uma gripe bem forte, pois só assim o corpo poderá fazer o que mais precisa: descansar e se desintoxicar.
Uma contratura muscular
Uma fisgada nas costas, seguida de uma rigidez e contratura muscular, um desconforto, uma dor lombar, o corpo vai falando...
Quando isto acontece, e certamente é algo comum, apesar da dor ou incômodo, talvez seja um bom momento para a auto-observação (é essencial). Observar:
- a postura, que pode causar dor lombar segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia SBOT;
- se está trabalhando sentado por muitas horas, pois é importante se levantar a cada 1 hora;
- verificar se a cadeira é apropriada ou se precisa de ajustes;
- se a irritabilidade, impaciência estão acentuadas, pois resultam em uma postura rígida e inflexível em alguma área da vida.
Alimentação
E quanto à alimentação?
Alimentação é a base da nossa saúde.
Dar preferência aos alimentos frescos, se possível, orgânicos. Evitar os alimentos enlatados, processados, cheios de conservantes e açúcar.
Na hora das refeições evitar líquidos e principalmente brigas e discussões.
Comer devagar, mastigar bem, prestar atenção no sabor, no cheiro, na textura dos alimentos, nas sensações, sem exagerar na quantidade de comida.
Mudanças necessárias
Ao ouvirmos nosso corpo, vamos chegando à conclusão de que algumas mudanças são necessárias para vivermos com mais saúde.
Podemos ter a ilusão de que precisamos de mudanças radicais, as quais necessitam de muita força de vontade, disciplina e, sobretudo, sacrifício.
Porém o caminho da auto-observação e, portanto, o autoconhecimento é uma longa viagem onde precisamos ter paciência e amor.
Enfim, segundo Laozi, o grande filósofo que viveu na China no século VI a.C.:
“Uma longa viagem começa com um único passo.”