Antídotos para Emoções Destrutivas sob o olhar da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).
As recomendações de antídotos pela MTC estão longe de alcançar todas as emoções humanas. Por isso, relacionamos neste artigo as emoções mais prevalentes e que mais afetam os cinco órgãos: Fígado, Coração, Baço, Pulmão e Rim. Esses efeitos das emoções se manifestam em desequilíbrios físico-energéticos.
Emoções são Naturais
É importante considerar que as emoções são naturais. Elas fazem parte da vida, todas elas: alegria, raiva, tristeza, preocupação, ansiedade, medo, frustração, indignação, revolta, contentamento, gratidão, etc.
Entretanto, o nível e a frequência em que ocorrem, definem seu poder benéfico ou prejudicial. Pois, a longo prazo, emoções exarcebadas podem enfraquecer os órgãos, alterando suas funções e contribuindo para a formação de fatores patogênicos como o calor e a umidade.
Frejat nos conta
Na música Amor pra Recomeçar, Frejat nos fala da medida das emoções, veja o vídeo.
Emoções Destrutivas
Uma emoção se torna destrutiva quando:
- É vivenciada por longo período (meses ou anos).
- É reprimida, negada ou suportada em silêncio.
- Altera negativamente a direção do Qi.
- Lesa o funcionamento de um ou mais órgãos internos.
- Impede a expressão e a liberdade de ser do indivíduo.
- Lesa a consciência, impedindo o crescimento espiritual.
A seguir, como determinadas emoções nos afetam e de que maneira os valores humanos contribuem para a nossa harmonia.
Entretanto, é importante lembrar, que as mudanças se iniciam em nós. E como consequência, ajudarão a transformar o nosso derredor.
Raiva e Frustração
As raízes da raiva são os sentimentos de frustração, irritação, decepção e ressentimento.
No corpo, a raiva faz o Qi ascender. Assim, a energia que sobe, perturba o cérebro e é percebida nitidamente pela face. Lembra de alguém que fica vermelho de raiva?
Esses sentimentos prejudicam o Fígado (gan), que assim deixa de cumprir suas funções energéticas plenamente. E entre elas, está o garantir o livre fluxo de energia pelo corpo. Entre as consequências: estagnações, alteração da pressão, irritação, intolerância e instabilidade.
Antídotos para a Raiva
Abrir a mente. Buscar opções diferentes na vida. Mudar crenças limitantes e padrões. São atitudes que auxiliam no desenvolvimento da flexibilidade. Com isso:
- A compreensão aumenta.
- A Energia Qi flui de maneira harmoniosa.
- E o Fígado (gan) agradece.
Entusiasmo, Euforia e Ansiedade
O entusiasmo é benéfico para a saúde. Pois, ele tonifica as funções do Coração (xin). Entretanto, a euforia e a ansiedade, se provocarem excitação excessiva, então lesam o Coração (xin).
Todos nós nos sentimos bem quando estamos entusiasmados. Pois isso mobiliza o sangue dentro dos vasos e nos deixa corados. Entretanto, o excesso de estímulo agita demasiadamente a Mente (shen). E, com frequência, enfraquece as funções do Coração (xin). Desequilibra o organismo. A taquicardia é um exemplo desse desequilíbrio.
Antídotos para euforia e ansiedade
Para trabalhar a euforia e a ansiedade é preciso fazer uma atividade de cada vez.
Carpe Diem: que atentemos para o presente, fazendo apenas o que estiver ao alcance. Pois, muito da euforia interna do dia a dia decorre dos anseios em relação ao futuro. Por isso, cultivar hábito de fazer somente o necessário no momento presente, vivendo o agora e o que é possível dentro da realidade. Dessa forma, devemos pensar no futuro, sonhar sempre, mas na medida certa para afastarmos a ansiedade.
Atividades físicas, meditação e terapias corporais auxiliam significativamente no processo de diminuição da euforia e do anseio. E entre os antídotos estão:
- Aceitação, paz e simplicidade.
- Aceitar o que independe de nós para mudar.
- Compreender os fatos, reduzindo as expectativas, partindo do que é simples e real, podem nos ajudar a tranquilizar a mente.
Preocupação e obsessão
A preocupação, excesso de pensamentos, estudos e reflexão consomem fortemente a energia do corpo. Faz estagnar a Energia Qi. E lesa principalmente o Baço (pi), que é o grande pai do metabolismo e um dos responsáveis pelo Qi pós-celestial. Lembre que a preocupação faz mal a saúde.
Do mesmo modo, a obsessão consome a energia e pode ser desencadeada pela fraqueza do Baço (pi). Por exemplo, a obsessão por doces é um sinal de que este órgão precisa ser nutrido. A obsessão é falta de nutrição plena, que depende dos alimentos e também da consciência.
Antídoto para preocupação e obsessão
Em geral, preocupação e obsessão podem ser estimuladas a partir de crenças, de valores e de sentimentos vivenciados constantemente.
Por isso, os antídotos para a obsessão são a reflexão consciente e o autoconhecimento, os quais podem ser conseguidos, por exemplo, com psicoterapia e arteterapia.
Tristeza e Perda
Sentimentos crônicos de solidão e tristeza têm direção descendente e fazem com que o yang desça, quando naturalmente ele deveria subir. Pessoas com sintomas de depressão ficam desanimadas, têm deficiência de Qi e respiração curta, muitas vezes estão indispostas para se relacionar.
Na concepção chinesa, sentimentos como esses alteram a harmonia dos órgãos, como do Pulmão (fei) e do Coração (xin), que se localizam no aquecedor superior (no tórax) e atuam dispersando a Energia Qi e Sangue (xue) ao longo do corpo.
Antídotos para Tristeza e Perda
Fazer exercícios respiratórios para mobilizar e circular o Qi ajuda a diluir a tristeza e a angústia. É importante, pois o Qi estagnado potencializa sentimentos de tristeza e angústia.
Buscar algo que inspire, como elevar o espírito e a consciência diante desses sentimentos. Comemore pequenos momentos. Sinta o sol e respire imaginando que ele entra no seu corpo lhe acolhendo e produzindo alegria.
Treinar o desapego, a aceitação, a compreensão da vida e a conexão espiritual elevam o seu espírito. Pois, aumenta a sensação de bem-estar e facilita o caminho para o novo, minimizando a solidão, a tristeza e a perda.
Medo e Pavor
Quando alguém sente medo crônico, secreta altos níveis de cortisol: corticosteróide produzido pelas glândulas suprarrenais, que ficam próximas ao Rim (shen).
Esse medo faz o Qi descender. Portanto, vivenciar o medo constantemente lesa as funções renais, porque o Rim (shen) têm natureza ascendente. O Qi do Rim deve subir para auxiliar no sistema circulatório e nas funções dos outros órgãos vitais como o Coração. E o medo prejudica esse movimento.
Na cidade grande, o medo está em toda parte. Isso desencadeia a produção excessiva de cortisol e altera quimicamente o cérebro, resultando em depressão e diminuindo a vitalidade.
Antídotos para o Medo e o Pavor
Estimular valores como coragem, segurança e autoconfiança. Pois, é encontrando um lugar dentro de nós, que nos sentiremos verdadeiramente seguros. E esse lugar só pode ser descoberto por meio do autoconhecimento.
O amor e o acolhimento, que nascem no Coração promovem a coragem e a autoconfiança.
Depressão
A depressão é uma patologia que causa alterações químicas no cérebro e está relacionada a neurotransmissores como serotonina e dopamina. Tais alterações provocam mudanças de humor que vão do sentimento prolongado de tristeza ao desespero.
A patologia tem os seguintes sinais:
- pensamentos dolorosos,
- falta de autoestima,
- agitação,
- ansiedade,
- falta de interesse no presente,
- insônia,
- perda de apetite e
- variações de humor que pioram com o estresse.
Sabe-se que uma pessoa em depressão secreta altos níveis de cortisol.
Esse hormônio é secretado quando há medo. Portanto, a pessoa depressiva vive em estado de medo crônico, que o afasta de qualquer nível de felicidade e bem-estar. Por isso, na visão da Medicina Chinesa, o medo é um sentimento relacionado ao Rim.
Em Alerta
Quando, em estado de alerta, o Rim estimula as glândulas que secretam hormônios do estresse, que preparam o indivíduo para a defesa. Assim, em uma cidade como São Paulo, o medo se apresenta: no trânsito, no trabalho, nos relacionamentos e na saúde, etc.
Além disso, o Rim é a base do yin e do yang, ou seja, fornece a energia para manter o funcionamento e a estrutura dos órgãos internos.
Portanto, quando o Rim está enfraquecido, então todos os demais órgãos deixam de receber a nutrição adequada. Assim, na visão oriental, a depressão é um sinal, que acomete o funcionamento do Fígado, do Coração e do Pulmão.
Fígado (gan)
No Fígado (gan), a depressão é caracterizada pela falta de criatividade, de ideias, de imaginação, de objetivos e de propósito de vida. A estagnação da energia do fígado leva o indivíduo a ter dificuldade de encontrar saídas para os problemas diários.
Coração (xin)
No Coração (xin), a depressão é caracterizada pela falta de alegria e de interesse no presente, além de grande sentimento de culpa.
Pulmão (fei)
No Pulmão (fei), o sentimento crônico de angústia lesa as funções energéticas, provocando aperto no peito, respiração curta e desejo de morrer.
Antídotos para a Depressão
A MTC trata a depressão com eficácia por meio de acupuntura e fitoterapia. Para tal, utilizamos pontos que nutrem e equilibram as funções dos órgãos em questão.
Também, o uso de fórmulas magistrais é altamente recomendado.
Ervas frias e amargas acalmam a mente e nutrem o Coração, promovendo o bem-estar e a abertura da mente para novos caminhos. Já as ervas mornas elevam o Qi, melhorando o humor.
Todo e qualquer tratamento fundamentado na MTC tem o propósito de levar tranquilidade ao espírito, proposta esta, de influência taoísta.
Culpa e Vergonha
O sentimento de culpa nem sempre é percebido em muitos casos clínicos. Pois, há pessoas que deixam de levar esse sentimento a sério, sem imaginar o quanto ele pode ser destrutivo.
"... a culpa está completamente ausente dos livros de Medicina Chinesa”. Entretanto, sabemos que esse sentimento desequilibra o organismo, pois o corpo é afetado todas as vezes que alguém é abalado emocionalmente."
Maciocia (1996)
A culpa pode causar estagnação do Qi, ou seja, paralisar o fluxo suave de energia e prejudicar principalmente as funções do Rim (shen). Quem se culpa, retém energia, o que contribui para o sentimento de insegurança, acometendo as funções renais e impedindo o fluxo harmônico do Qi.
Os chineses acreditam que o Rim (shen) abriga a força de vontade e a coragem do indivíduo. Por isso, o sentimento crônico de culpa lesa as forças internas e também desestabiliza a mente, perturbando as funções do Coração (xin).
A vergonha, por sua vez, além de contribuir para a estagnação do Qi, também provoca o que os chineses chamam de afundamento do Qi, pois ela atua descendendo o Qi.
Quem sente vergonha olha para baixo, encolhe os ombros e por vezes se esconde, segurando sua própria energia. Assim, o aquecedor inferior fica estagnado, causando desequilíbrios que reforçam o medo.
Antídotos para Culpa e Vergonha
A vergonha está mais relacionada às crenças do indivíduo do que a situações difíceis em si.
“uma vez que entendemos o quanto do nosso comportamento é controlado, inconscientemente, pelas crenças dos outros, cada um de nós pode, legitimamente, libertar-se dos grilhões da culpa e da vergonha”.
Lipton (2009)
Portanto, para nos livrarmos da Culpa e da Vergonha, precisamos:
- identificar, avaliar e reformular crenças que carregamos.
Emoções Destrutivas
Todas essas emoções que são destrutivas. Pois, prejudicam o funcionamento dos órgãos internos (zang), comprometendo a saúde.
E essas emoções destrutivas, quando vivenciadas de maneira crônica, podem provocar fatores patogênicos como o calor interno e umidade. Por isso, para manter a saúde, é importante ir além da nutrição física e buscar a promoção total da saúde, que envolve a harmonia das emoções e a prática da espiritualidade.
Fontes
- Maciocia G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa: Um texto abrangente para acupunturistas e fitoterapeutas. 1ª ed. São Paulo: Roca, 1996.
- Lipton, B; Bhaerman, S. Evolução espontânea. Portugal: Lux Citania, 2009.
- Arantes, AM; Dietoterapia Chinesa. São Paulo: Roca, 2015.